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No começo da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), a preocupação com os idosos era grande e evidente

No começo da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), a preocupação com os idosos era grande e evidente

Postado [0DD] de [MM2], [YYYY]|18/08/2021 00:00:00

No começo da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), a preocupação com os idosos era grande e evidente: um dos maiores grupos de risco conhecidos, eles consistiam na maior parcela de internações graves e do número de mortes —de acordo com dados do Portal da Transparência do Registro Civil, apurados pela Agência Brasil, no primeiro ano de pandemia 70% a 80% dos óbitos estavam concentrados entre pessoas com mais de 60 anos.

Com o início da vacinação e a priorização desse grupo de risco na fila da imunização, começamos a ver uma mudança nesse perfil e em março de 2021, as mortes por covid-19 de pessoas mais novas, até 59 anos, já passavam da metade.

No entanto, não é por isso que devemos parar de nos preocupar com esse grupo, que ainda pode ser muito vulnerável aos efeitos do vírus. "Sabemos que o risco de hospitalização é 4 a 5 vezes maior na população idosa e a taxa de letalidade pode chegar a 14,8% acima dos 80 anos. Hoje, passado um tempo da pandemia, o impacto continua grande e agora temos a repercussão negativa do isolamento social, o descontrole das doenças crônicas preexistentes e um piora da saúde mental", compara a geriatra Andréia Casarotto, médica supervisora do Programa de Residência Médica de Geriatria e Gerontologia do HUJM da UFMT (Hospital Universitário Júlio Müller da Universidade Federal de Mato Grosso).

Sequelas afetam diversos tipos de idosos

Sabemos que como toda doença, os impactos da infecção pela covid-19 aparecem nos idosos de formas diferentes. "A população idosa é muito heterogênea, temos idosos robustos que fazem quadros leves e com poucas sequelas e idosos frágeis que geralmente têm um impacto funcional importante da doença", pondera Casarotto.

"Um estudo interessante mostra os desfechos de fraturas de fêmur em pacientes que apresentaram covid-19 em comparação com pacientes que apresentaram estas fraturas antes da pandemia. Embora o perfil das fraturas tenha sido semelhante, a mortalidade foi 7 vezes maior naqueles que tinham histórico de covid-19, provavelmente refletindo o impacto da infecção sobre a capacidade de resposta a desafios orgânicos", explica o infectologista Carlos Brites, chefe do Laboratório de Pesquisa em Infectologia do Hupes/UFBA (Hospital Universitário Professor Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia) da Rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares).

O que sabemos hoje sobre essa doença é que ela afeta fortemente a respiração e traz uma grande sensação de cansaço. "Alguns, mesmo sem alterações em exames como provas de função respiratória ou tomografia computadorizada, se queixam que não estão como antes. Apresentam-se mais cansados e fadigados diante de atividades físicas que anteriormente faziam sem queixas", relata Karlo Edson Moreira, geriatra do HUJBB (Hospital Universitário João de Barros Barreto), vinculado ao Complexo Hospitalar da UFPA (Universidade Federal do Pará), da Rede Ebserh.

Moreira explica que normalmente o quadro de covid inflama o organismo como um todo, mas o vírus costuma ter uma certa predileção por algumas células ou órgãos específicos, como vasos, pulmões, rins, fígado e sistema nervoso. Por isso, entre as sequelas mais relatadas entre os idosos encontramos:

Motoras: síndrome da fragilidade, maior tendência a quedas, perda do trofismo [volume da massa muscular que existe no corpo] e força muscular, sarcopenia, etc.; Vasculares: AVC, trombose;

Respiratórias: persistência do cansaço pelo comprometimento permanente da capacidade pulmonar, infecções pulmonares recorrentes, entre outras;

Cognitivas e neuropsiquiátricas: queixas de memória, insônia, alterações do humor, ansiedade, depressão, síndrome do estresse pós-traumático, entre outras mais;

Renais: incontinência urinária, insuficiência renal, etc.

 

Mas tudo isso é causado pelo novo coronavírus?

Vale lembrar que muitas situações que encontramos durante essa crise sanitária não são causadas fisicamente pelo vírus, mas em decorrência do seu tratamento e da sua prevenção. Um exemplo é a síndrome da fragilidade em idosos, que está totalmente relacionada aos períodos de internação mais longa. "Identificamos que idosos que não apresentavam fragilidade antes da covid-19 desenvolveram a síndrome durante a internação hospitalar", explica o fisioterapeuta José Eduardo Pompeu, livre-docente em fisioterapia em geriatria e gerontologia pelo Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo);

Pompeu coordena um estudo do HC-FMUSP sobre os impactos físicos e mentais em pessoas que foram internadas por consequência da covid-19. Até o momento, o projeto já avaliou 150 pessoas, todas elas após 30 dias de receberem alta hospitalar e percebeu que 91% dos idosos apresentaram como sequela a fragilidade. Os pacientes passaram a apresentar alterações características da fragilidade como perda de peso, sensação de exaustão, baixa atividade física, diminuição da velocidade da marcha e redução da força de preensão palmar: três desses sintomas já são suficientes para considerarmos uma síndrome de fragilidade.

Os pacientes passaram a apresentar alterações características da fragilidade como perda de peso, sensação de exaustão, baixa atividade física, diminuição da velocidade da marcha e redução da força de preensão palmar: três desses sintomas já são suficientes para considerarmos uma síndrome de fragilidade. Mais uma vez, acreditamos que a fragilidade ocorreu pela somatória de efeitos diretos da covid-19 somados às consequências da internação hospitalar. José Eduardo Pompeu, fisioterapeuta e livre-docente da FMUSP.

Um quadro chamado um quadro chamado síndrome do cuidado pós-intensivo, que pode ser causado por internações prolongadas. "Ele é caracterizado por sintomas físicos como cansaço, taquicardia, sarcopenia, imobilidade e dor; sintomas cognitivos, tais quais delirium e alterações de memória; e sintomas mentais, como depressão, medo, ansiedade, insônia entre outros", enumera a especialista.

Moreira, do Pará, ainda ressalta como a situação de incerteza agrava os problemas emocionais. "Algumas vezes é pelo medo de pegar ou pelo medo que um dos filhos pegue, em outras é pelo isolamento social ou afastamento de alguns de seus familiares que a condição provocou. Esse isolamento, medo, incerteza são fatores de gatilhos para desencadeamento de doenças psicobiológicas", explica o geriatra.

Ele ainda lembra que, diferente dos mais jovens, esses idosos nem sempre tem a possibilidade de interagir pelas redes sociais, contando muito com a televisão, em que havia grande predomínio de notícias difíceis, como o alto índice de mortes. O especialista ainda aponta o afastamento do atendimento médico de rotina. "Como consequência alguns remédios foram parados e doenças crônicas descompensam, o que também influencia no emocional dessas pessoas", finaliza.

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